terça-feira, agosto 28, 2007

o jardim do palácio do manteigueiro (ministério da economia) - um paradigma da evolução do jardim em Portugal na última década








era um jardim pequeno, com uma fonte com repuxo central. tinha arruamentos de plantas várias. tinha roseiras, tinha buxo. tinha um grande pessegueiro. tinha uma latada que o rodeava e uma grande varanda com uma escada que fazia a comunicação casa-jardim.

em meados dos anos 90 substituiu-se os arruamentos e canteiros por um relvado. deitaram abaixo o pessegueiro, e fez-se a um canto um pequeno canteiro pseudo rock-garden. cobriu-se a latada com um toldo azul marino de plástico. fez-se uma marquise na varanda.

em 2007 cobriram-se os canteiros com casca de pinheiro, construiu-se uma plataforma de calçada em cima do relvado para se pôr a mesa e as cadeiras (que nunca ninguém usou por sinal). o toldo azul que tinha substituído as roseiras trepadeiras foi substituído por um toldo verde.

tenho pena que não tenham construído um deck, o paradigma seria perfeito.

aqui ficam as imagens actuais, as antigas não encontro



_manel

domingo, agosto 26, 2007

Paisagem na moldura




Cada vez se vive mais em espaços fechados: o carro, a casa, o café, o shoping – dentro de paredes, que fecham, que separam. Vive-se protegido por limites que nos separam dum espaço que se designa como paisagem. Toda aquela ideia que a paisagem é sobretudo um espaço que cria em nós sentimentos e que por isso tem principalmente um significado fenomenológico tende a acabar.

A paisagem, como criação mental do homem que a vive cada vez mais deste modo, está morta.

Nos espaços fechados a única solução é olhar pela janela do carro, pela janela da casa, pela janela do ‘Windows’. Olhamos apenas para um qualquer espaço limitado por uma moldura, um limite quadrado, bem definido – somos levados a pensar sobre os problemas da composição desse quadro e todo o processo que passa depois até se constituir uma potencialidade de construirmos novos “sentimentos” sobre essas imagens. Tudo o que cabe nessa moldura é facilmente manipulado pelas pessoas que a pensaram ou que a seleccionaram.


O arquitecto paisagista ao serviço do marketing.

Paisagem na linha de montagem


Palmeiras na várzea de Loures.



Interior

Primeiro plano

Limite vivênciavel

Pano de Fundo – não é real




Se as paisagens forem todas iguais as pessoas tornar-se-ão todas iguais

Eu não quero ser igual, quero ser especial

Quero ser amado




_joão

MANIFESTO ANTI-PAROLISMO NO JARDIM

ABAIXO OS DECKS
ABAIXO A CASCA DE PINHEIRO
ABAIXO OS JARDINS ZEN
ABAIXO OS SEIXOS ROLADOS
ABAIXO OS BAMBUS MISTURADOS COM ESTAS COISAS TODAS
ABAIXO A ALFAZEMA MISTURADA COM ESTAS COISAS TODAS
E PRINCIPALMENTE ABAIXO OS DECKS


_manel

terça-feira, agosto 14, 2007

intervenção nos jardins do centro de arte moderna da gulbenkian








como meia-dúzia de panos mudam totalmente um espaço. porque não introduzir variáveis como estas na fase de projecto? é dos sítios mais agradáveis para estar em lisboa neste verão.

fotografias teresa a.



_manel

domingo, agosto 12, 2007

cem anos que Miguel Torga nasceu, e cinquenta e sete que publicou o mais bonito livro sobre a paisagem portuguesa - Portugal - da paisagem e sobretudo dos homens que nela vivem, porque uma coisa sem outra não é uma coisa nem é outra.
em tempo de relvinhas e mansonetes e piscinetes e condominiozecos é uma limpeza para a cabeça ler Portugal.


_manel

sábado, agosto 11, 2007


depois de se andar 30 km. quando se está muito cansado, mesmo muito, começa a haver uma percepção mais apurada de pequenos detalhes(se calhar alguns percebem-no logo sem ter andado muito): há caminhos que dão voltas e mais voltas e volteiam voltam a volteiar, não custam a subir, sobem-se montes impressionantes sem o mínimo esforço. são normalmente os mais antigos. depois de vez em quando aparecem umas calçadas romanas, já há ali uma inclinação da arrogância. já custam mais a subir. e depois, finalmente, há os caminhos rurais acimentados com inclinações incríveis, praticamente impossíves de subir a pé. o que dizer do grau de arrogância da civilização que construiu estes últimos?

_manel
Rem Koolhaas

negou-se a participar no concurso Zona Zero New York porque lhe parece a criação de um monumento à compaixão a uma escala estalinista... mas está a construir a torre mais alta de Pequim, e quando lho disseram respondeu: o sistema chinês está a mudar tão rapidamente que quando o meu edifício estiver construído a China já terá abandonado a repressão como ferramenta política...

notícia do El Pais de 6/8/2007