segunda-feira, julho 23, 2007
Durante este ano aprofundei o meu conhecimento na obra de Rob Krier, li sobre os conceitos de Cidade Sustentável, Cidade Compacta, Responsive Environments (não encontro nenhuma boa tradução para este) e qualidades urbanas da cidade tradicional, e projectei nestas bases.
Disseram-me que a minha abordagem era naïve.
Deixo-vos este vídeo worth spreading.
_diogo
domingo, julho 22, 2007
Aire e Candeeiros
em Alcanede estamos às portas da serra.
calcário/calcário/calcário/calcário
as estradas, as casas e a pouca agricultura seguem os vales, sempre atrás do rasto da terra rossa. são linguas vermelhas e verdes no meio do branco do maciço.
no século XVII vieram os monges de Alcobaça desbravar estes vales férteis onde não correm ribeiros, encheram-nos de oliveiras. mais tarde são as encostas que são desbravadas e desaparecem de vez os cercais, azinhais e zambujais. mais oliveiras plantadas pelos montes acima.hoje não há cercais, não há zambujais, não há azinhais, não há olivais. há pedra escalavrada, há pedra branca e descarnada por fogos sucessivos.
e no meio do pedregal um polje P O L J E, e outro polje. ainda com restos de água, e com aquela vegetação verde ali, no meio das pedras. que coisa mais estranha os polje, um mar ali no meio das pedras, um pequeno mar provinciano
80 % das casas de Mendiga, Alvados, Minde são feias, pirosas, com colunatas e telhados arrebitados, e pintadas do amarelo-mais-feio-do-mundo.
Porto de Mós e Mira de Aire são paradas, desoladas, com blocos de apartamento de 6 andares feios, feios, feios. e com a sua rua pedonalzinha calcetada. com as suas lojinhas mediocres.
chega-se aos Olhos de Água, e lá estão os olhos de água que são mesmo olhos de água. e tudo é água e vegetação frondosa. atravessa-se uma ponte : CEntro de interpretação dos olhos de água,
olhamos, estranhamos, tocamos na madeira de que o enorme edifício é enfeitado, placas finas de contraplacado a caminho do apodrecimento. tentamos entrar. não há ninguém, não há nada. não há programa, não há horário. só a placa : Inaugurado em 2004 pelo Exmo. Sr. Secretário de Estado do Ordenamento do Território Dr. Pedro Silva Pereira.
as fotografias são roubadas
_manel
terça-feira, julho 17, 2007
Ele conhece todas as plantas e sabe onde encontrá-las
Numa actividade semelhante à dos antigos naturalistas, Arménio Matos percorre o país de lés a lés a recolher amostras da flora portuguesa. É possivelmente o último "colector" do país. E não há ninguém para lhe suceder. Ricardo Garcia (texto) e Daniel Rocha (fotos)
a Cheira intensamente a tomilho. O solo, calcário e pedregoso, tem uma aparência agreste, mas está revestido por um tapete de moitas coloridas, com tantas plantas diferentes, que é difícil imaginar alguém que saiba o nome delas todas.
O jardineiro Arménio da Costa Matos sabe. E recita-os em latim, com a naturalidade de quem assobia. "Eu não estou por dentro dos nomes comuns, lido mais com os nomes científicos", justifica.
A variedade da flora nesse ponto do país, o Parque Natural da Serra d"Aire e Candeeiros, é enorme. Estão contabilizadas pelo menos 570 espécies de plantas vasculares. Quatro em cada dez têm alguma utilidade medicinal ou como erva aromática.
Pelo menos 40 estão protegidas por leis internacionais. Dezasseis só existem em Portugal e em mais nenhum outro ponto do planeta. Mas a espécie que corre mais risco de desaparecer é representada pelo próprio jardineiro.
Arménio Matos é um dos últimos - se não o último - colectores de plantas de Portugal. A sua tarefa é percorrer o país, de ponta a ponta, recolhendo amostras da flora portuguesa. "É uma derivação dos naturalistas dos séculos XVIII e XIX", diz Helena de Freitas, directora do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.
Os antigos naturalistas circulavam pelo mundo e traziam na bagagem centenas de espécimes de plantas e animais inéditos para a ciência. O que Arménio Matos carrega consigo quando volta do campo, porém, são exemplares de plantas que já se conhecem. O destino é o banco de sementes do Jardim Botânico de Coimbra, que há quase um século e meio colecciona o património vegetal do país.
O primeiro catálogo de sementes do Jardim Botânico - o Index Seminum - foi publicado em 1868, quando o mundo ainda digeria o livro A Origem das Espécies, de 1859, no qual Charles Darwin explicou a sua teoria da evolução. Hoje, o catálogo serve sobretudo para facilitar as permutas de sementes com instituições semelhantes no exterior.
Uma cópia da brochura, com dezenas de anotações feitas à mão, acompanha Arménio Matos nas suas saídas de campo e é um dos seus principais instrumentos de trabalho.
Os outros são extraordinariamente simples: um saco plástico grande, envelopes usados para pôr as plantas, algumas folhas de jornal, um pequeno canivete. "E um sachinho que tenho aqui na carrinha, para apanhar plantas inteiras para herbário", diz o colector.
Quando desce da carrinha, Arménio Matos já vai curvado, a olhar para o chão e a apanhar amostras. "Esta é uma das que pedem mais", afirma, arrancando uma pequena planta pelo caule e ditando-lhe o nome científico.
Sendo as sementes o que interessa, não adianta apanhar amostras ao acaso. "Esta não dá porque ainda está em flor. Está muito atrasada", diz, descartando outra planta da qual não sabe o nome comum.
Agora com 52 anos, Arménio Matos começou cedo no Jardim Botânico de Coimbra, quando tinha 18. Aceitaram-no como jardineiro, e a primeira poda que o obrigaram a fazer foi na barba e cabelo comprido que tinha na altura.
Quando foi à tropa, surgiu-lhe a oportunidade de seguir a carreira militar. Mas não quis. "Não gostava de fardas e já era funcionário público", explica.
Regressou ao Jardim Botânico. Mais de três décadas depois, ainda mantém a sua categoria profissional inicial - a de jardineiro - apesar do saber único que acumulou desde então, em especial nos últimos 20 anos como colector.
Arménio Matos conhece cada palmo do terreno onde faz as suas recolhas. E sabe exactamente onde estão ou deveriam estar as plantas de que necessita. Chega junto a um muro de pedra, investiga rapidamente a vegetação, mas sai de mãos vazias: "O Omphalodes linifolia que eu apanhei cá no ano passado já cá não está".
Mais à frente, a busca é por exemplares de uma planta relativamente rara, a Arabis sadina. "Não há em muitos lados", diz, junto à vertiginosa paisagem da Fórnea - uma impressionante estrutura geológica, em forma de anfiteatro, em Porto de Mós. Mas também ali o resultado é nulo, o mato já tinha sido percorrido antes por um rebanho faminto. "Está tudo comido pelas ovelhas", lamenta.
Ainda assim, a cada meia dúzia de passos, mais uma planta diferente é recolhida. Mais um nome em latim é pronunciado. Mais um envelope é preenchido com amostras e adicionado ao saco plástico.
Quando o material chega a Coimbra, as sementes são extraídas das plantas, passam por um processo de secagem e finalmente são armazenadas numa câmara frigorífica.
O banco de sementes de Coimbra não representa toda a flora portuguesa. "Mas é o mais completo do país", assegura Helena de Freitas. No seu auge, chegou a ter sementes de 2600 espécies. Agora tem cerca de 1500.
A colecção tem de ir sendo reposta à medida que as sementes são cedidas para outros institutos ou não podem mais ser conservadas em boas condições. É este o trabalho de um colector: sair ao campo e trazer de volta o que falta.
Para a ciência nacional, o conhecimento que Arménio Matos tem das plantas e da sua distribuição geográfica é uma ferramenta preciosa. O colector ajudou, por exemplo, nos trabalhos que levaram à descrição de uma nova espécie de planta, a Arabis beirana, identificada na Serra do Açor há alguns anos.
Alunos da universidade assediam-no para ajudar na identificação de espécies. Investigadores pedem-lhe para trazer exemplares para os seus trabalhos académicos. "Desde que tenha conhecimento da planta, sei onde encontrá-la", garante. "A não ser que chegue lá e já lá não esteja, ou porque foi queimada com herbicida, ou porque está lá uma casa em cima".
Casos desses não são raros. Arménio Matos testemunhou o desaparecimento da carnívora Drosophyllum lusitanicum de Lordemão, Coimbra, à medida que casas e mais casas foram sendo construídas à volta do local onde a planta crescia. "Desapareceu", diz. Em outras situações, dizer onde se encontra uma espécie rara é meio caminho para o seu fim, por expô-la à colheita abusiva e descontrolada.
A profissão de colector já o levou a todos os cantos do país e até ao exterior. Mas quando se lhe pergunta qual é o sítio mais complicado para o seu trabalho, responde sem pestanejar: "É a Serra da Estrela." Ali há espécies raras de flora que só se apanham no Inverno. "Cheguei a ter de fazer escadas na neve para colher plantas", recorda.
Muitas plantas podem reservar dissabores aos mais desavisados. "Esta é venenosa", avisa Arménio Matos, apontando para uma erva de aparência inofensiva, que responde pelo nome de Euphorbia portlandica. O colector ajoelha-se, estende uma folha de jornal no chão e corta a planta com um pequeno canivete. Do caule, sai um látex branco, que é de evitar a todo custo, e uma história arrepiante basta como aviso: "Houve um colega meu que apanhou uma com a mão, na praia, e depois foi urinar. Teve de ir para o hospital."
As urtigas, é preciso saber como lidar com elas. Por exemplo, apanhá-las sempre com um movimento de baixo para cima e, de preferência, de manhã, quando os minúsculos espinhos estão mais moles. "Costumo dizer que ainda estão a dormir", graceja.
Quando Arménio Matos começou o seu trabalho como colector, havia mais quatro no Jardim Botânico de Coimbra. Os seus colegas foram-se reformando, com 35 anos de serviço. Restou apenas ele, que estaria à beira do mesmo destino, não tivesse o sistema de reformas na função pública sido alterado.
A seguir, não há mais ninguém. Um potencial sucessor que começou a trabalhar com Arménio Matos desistiu ao fim de algum tempo. "É preciso ter muita força de vontade. Temos de aprender, de nos agarrar aos livros", explica.
Foi isso o que ele próprio fez: introduziu-se no mister de colher sementes pela mão dos colegas mais velhos, depois foi estudando, por sua própria conta, a partir de obras de referência sobre plantas.
Nos tempos áureos, a equipa de colectores do Jardim Botânico chegava a fazer duas saídas por semana para o campo. Agora, resta apenas um membro do grupo original e não há dinheiro para quase nada. Muitas campanhas de recolha de sementes são feitas à boleia de outros projectos de investigação. Ou então pagas pelo bolso dos próprios investigadores.
Curvado sobre si próprio, com o saco de plástico numa mão e a vista cravada no solo, Arménio Matos prossegue na busca das sementes de que o Jardim Botânico necessita. Em outros países, a profissão de colector merece melhor tratamento, a começar por formação especializada e um estatuto profissional mais recompensador.
Em Portugal, não. Para uma actividade que, no passado, ajudou à desvendar a biodiversidade do mundo e que agora contribui para a sua preservação, o prospecto para o seu futuro no país é tristemente irónico. Helena de Freitas, directora do Jardim Botânico, resume numa frase: "É uma profissão em extinção."
no Jornal Público de 10 de Julho de 2007
_manel
Numa actividade semelhante à dos antigos naturalistas, Arménio Matos percorre o país de lés a lés a recolher amostras da flora portuguesa. É possivelmente o último "colector" do país. E não há ninguém para lhe suceder. Ricardo Garcia (texto) e Daniel Rocha (fotos)
a Cheira intensamente a tomilho. O solo, calcário e pedregoso, tem uma aparência agreste, mas está revestido por um tapete de moitas coloridas, com tantas plantas diferentes, que é difícil imaginar alguém que saiba o nome delas todas.
O jardineiro Arménio da Costa Matos sabe. E recita-os em latim, com a naturalidade de quem assobia. "Eu não estou por dentro dos nomes comuns, lido mais com os nomes científicos", justifica.
A variedade da flora nesse ponto do país, o Parque Natural da Serra d"Aire e Candeeiros, é enorme. Estão contabilizadas pelo menos 570 espécies de plantas vasculares. Quatro em cada dez têm alguma utilidade medicinal ou como erva aromática.
Pelo menos 40 estão protegidas por leis internacionais. Dezasseis só existem em Portugal e em mais nenhum outro ponto do planeta. Mas a espécie que corre mais risco de desaparecer é representada pelo próprio jardineiro.
Arménio Matos é um dos últimos - se não o último - colectores de plantas de Portugal. A sua tarefa é percorrer o país, de ponta a ponta, recolhendo amostras da flora portuguesa. "É uma derivação dos naturalistas dos séculos XVIII e XIX", diz Helena de Freitas, directora do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.
Os antigos naturalistas circulavam pelo mundo e traziam na bagagem centenas de espécimes de plantas e animais inéditos para a ciência. O que Arménio Matos carrega consigo quando volta do campo, porém, são exemplares de plantas que já se conhecem. O destino é o banco de sementes do Jardim Botânico de Coimbra, que há quase um século e meio colecciona o património vegetal do país.
O primeiro catálogo de sementes do Jardim Botânico - o Index Seminum - foi publicado em 1868, quando o mundo ainda digeria o livro A Origem das Espécies, de 1859, no qual Charles Darwin explicou a sua teoria da evolução. Hoje, o catálogo serve sobretudo para facilitar as permutas de sementes com instituições semelhantes no exterior.
Uma cópia da brochura, com dezenas de anotações feitas à mão, acompanha Arménio Matos nas suas saídas de campo e é um dos seus principais instrumentos de trabalho.
Os outros são extraordinariamente simples: um saco plástico grande, envelopes usados para pôr as plantas, algumas folhas de jornal, um pequeno canivete. "E um sachinho que tenho aqui na carrinha, para apanhar plantas inteiras para herbário", diz o colector.
Quando desce da carrinha, Arménio Matos já vai curvado, a olhar para o chão e a apanhar amostras. "Esta é uma das que pedem mais", afirma, arrancando uma pequena planta pelo caule e ditando-lhe o nome científico.
Sendo as sementes o que interessa, não adianta apanhar amostras ao acaso. "Esta não dá porque ainda está em flor. Está muito atrasada", diz, descartando outra planta da qual não sabe o nome comum.
Agora com 52 anos, Arménio Matos começou cedo no Jardim Botânico de Coimbra, quando tinha 18. Aceitaram-no como jardineiro, e a primeira poda que o obrigaram a fazer foi na barba e cabelo comprido que tinha na altura.
Quando foi à tropa, surgiu-lhe a oportunidade de seguir a carreira militar. Mas não quis. "Não gostava de fardas e já era funcionário público", explica.
Regressou ao Jardim Botânico. Mais de três décadas depois, ainda mantém a sua categoria profissional inicial - a de jardineiro - apesar do saber único que acumulou desde então, em especial nos últimos 20 anos como colector.
Arménio Matos conhece cada palmo do terreno onde faz as suas recolhas. E sabe exactamente onde estão ou deveriam estar as plantas de que necessita. Chega junto a um muro de pedra, investiga rapidamente a vegetação, mas sai de mãos vazias: "O Omphalodes linifolia que eu apanhei cá no ano passado já cá não está".
Mais à frente, a busca é por exemplares de uma planta relativamente rara, a Arabis sadina. "Não há em muitos lados", diz, junto à vertiginosa paisagem da Fórnea - uma impressionante estrutura geológica, em forma de anfiteatro, em Porto de Mós. Mas também ali o resultado é nulo, o mato já tinha sido percorrido antes por um rebanho faminto. "Está tudo comido pelas ovelhas", lamenta.
Ainda assim, a cada meia dúzia de passos, mais uma planta diferente é recolhida. Mais um nome em latim é pronunciado. Mais um envelope é preenchido com amostras e adicionado ao saco plástico.
Quando o material chega a Coimbra, as sementes são extraídas das plantas, passam por um processo de secagem e finalmente são armazenadas numa câmara frigorífica.
O banco de sementes de Coimbra não representa toda a flora portuguesa. "Mas é o mais completo do país", assegura Helena de Freitas. No seu auge, chegou a ter sementes de 2600 espécies. Agora tem cerca de 1500.
A colecção tem de ir sendo reposta à medida que as sementes são cedidas para outros institutos ou não podem mais ser conservadas em boas condições. É este o trabalho de um colector: sair ao campo e trazer de volta o que falta.
Para a ciência nacional, o conhecimento que Arménio Matos tem das plantas e da sua distribuição geográfica é uma ferramenta preciosa. O colector ajudou, por exemplo, nos trabalhos que levaram à descrição de uma nova espécie de planta, a Arabis beirana, identificada na Serra do Açor há alguns anos.
Alunos da universidade assediam-no para ajudar na identificação de espécies. Investigadores pedem-lhe para trazer exemplares para os seus trabalhos académicos. "Desde que tenha conhecimento da planta, sei onde encontrá-la", garante. "A não ser que chegue lá e já lá não esteja, ou porque foi queimada com herbicida, ou porque está lá uma casa em cima".
Casos desses não são raros. Arménio Matos testemunhou o desaparecimento da carnívora Drosophyllum lusitanicum de Lordemão, Coimbra, à medida que casas e mais casas foram sendo construídas à volta do local onde a planta crescia. "Desapareceu", diz. Em outras situações, dizer onde se encontra uma espécie rara é meio caminho para o seu fim, por expô-la à colheita abusiva e descontrolada.
A profissão de colector já o levou a todos os cantos do país e até ao exterior. Mas quando se lhe pergunta qual é o sítio mais complicado para o seu trabalho, responde sem pestanejar: "É a Serra da Estrela." Ali há espécies raras de flora que só se apanham no Inverno. "Cheguei a ter de fazer escadas na neve para colher plantas", recorda.
Muitas plantas podem reservar dissabores aos mais desavisados. "Esta é venenosa", avisa Arménio Matos, apontando para uma erva de aparência inofensiva, que responde pelo nome de Euphorbia portlandica. O colector ajoelha-se, estende uma folha de jornal no chão e corta a planta com um pequeno canivete. Do caule, sai um látex branco, que é de evitar a todo custo, e uma história arrepiante basta como aviso: "Houve um colega meu que apanhou uma com a mão, na praia, e depois foi urinar. Teve de ir para o hospital."
As urtigas, é preciso saber como lidar com elas. Por exemplo, apanhá-las sempre com um movimento de baixo para cima e, de preferência, de manhã, quando os minúsculos espinhos estão mais moles. "Costumo dizer que ainda estão a dormir", graceja.
Quando Arménio Matos começou o seu trabalho como colector, havia mais quatro no Jardim Botânico de Coimbra. Os seus colegas foram-se reformando, com 35 anos de serviço. Restou apenas ele, que estaria à beira do mesmo destino, não tivesse o sistema de reformas na função pública sido alterado.
A seguir, não há mais ninguém. Um potencial sucessor que começou a trabalhar com Arménio Matos desistiu ao fim de algum tempo. "É preciso ter muita força de vontade. Temos de aprender, de nos agarrar aos livros", explica.
Foi isso o que ele próprio fez: introduziu-se no mister de colher sementes pela mão dos colegas mais velhos, depois foi estudando, por sua própria conta, a partir de obras de referência sobre plantas.
Nos tempos áureos, a equipa de colectores do Jardim Botânico chegava a fazer duas saídas por semana para o campo. Agora, resta apenas um membro do grupo original e não há dinheiro para quase nada. Muitas campanhas de recolha de sementes são feitas à boleia de outros projectos de investigação. Ou então pagas pelo bolso dos próprios investigadores.
Curvado sobre si próprio, com o saco de plástico numa mão e a vista cravada no solo, Arménio Matos prossegue na busca das sementes de que o Jardim Botânico necessita. Em outros países, a profissão de colector merece melhor tratamento, a começar por formação especializada e um estatuto profissional mais recompensador.
Em Portugal, não. Para uma actividade que, no passado, ajudou à desvendar a biodiversidade do mundo e que agora contribui para a sua preservação, o prospecto para o seu futuro no país é tristemente irónico. Helena de Freitas, directora do Jardim Botânico, resume numa frase: "É uma profissão em extinção."
no Jornal Público de 10 de Julho de 2007
_manel
quarta-feira, julho 11, 2007
conceitos de intervenção, metáforas formais, e o estar-se nas tintas para o que as pessoas e o espaço querem
aconteceu-me ontem ver vários projectos de ordenamento do território. prados e matas seguindo a forma de um moinho, mais prados e matas que desciam encostas como a lava de um vulcão de erupção calma, espirais de mata, mata em forma de espirais.
como é que a forma do território ( a uma grande escala) que é assim porque este foi trabalhado, porque ardeu e erodiu, porque alguém plantou árvores, porque o mato cresceu por si, porque se terraceou para vinha, porque as ovelhas o pisaram, porque as cabras o raparam até à última esteva, pode agora ser planeado com esta ligeireza: toda esta zona, estes 50000 hectares a partir de agora vão ter mata que vista do ar(!!!)terá a forma de uma vela de moinho porque esta zona tem muitos moinhos! a quem serve este planeamento senão ao ego do planeador. porque não dizer eu vou desenhar isto assim e assado porque acho que é o que está correcto, porque acho que fica bem, porque é o que as pessoas do sítio querem ou o que eu acho que elas querem, porque é prático, porque é bonito, porque se reduz a erosão............................ porqê seguir a forma de um objecto qualquer, porquê desenhar coisas num papel que só aasim o serão no local se vistas do ar, e será que ao decidir que aquele território será uma vela de moinho vista do ar não se vão fazer todas as adaptações e mais algumas para que isso aconteça, se vão deixar passar coisas que até seriam melhor assado para que naquele papel, aquele território tenha a forma de um moinho quando visto de cima?
uma coisa é um parque, ou o terreno de alguém, e aí que cada um escolha a forma que bem lhe apetece, outra coisa é num plano de ordenamento ditar a forma até à última consequência:" vocês que fazem hortas aí em baixo junto à ribeira façam favor de ordenar as vossas hortas em forma de beringela!"
e ouvi dizer que foi aprovado, e começará a haver planos de ordenamento do espaço rural à escala 1: 2000, em que algum iluminado nos ditará a forma do território ao pormenor da sebe e do murozinho de pedra solta, em que teremos de gramar com a forma do moinho ou da espiral voadora que o iluminado viu no programa da noite da rtp 2.
e para não falar de um ordenamento do território feito sem participação, sem real consciência do que é viável : " vocês que vivem nessa serra escalavrada vão fazer socalcos, para cuja construção vão ser precisas 500 pessoas a trabalhar das 5 da manhã às 9 da noite, e assim que esses socalcos forem abandonados porque a sua manutenção será butal toda essa terra vai pela encosta abaixo, mas isso a mim não me interessa porque os socalcos são giros"
chega desta corrente de oposição ao modernismo e que diz que forma pela forma porque a forma se adapta blá blá blá não quero levar com a vossa forma
_manel
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