segunda-feira, setembro 10, 2007

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do Jornal Barlavento desta semana, sobre o recente PUMP (Plano de Urbanização da Meia Praia), de notar as deliciosas justificações de autarcas e apoio do governo de sócrates:

E agora, Meia Praia? (carta aberta em forma de crónica)
Meia Praia
«…look to what they have done to my song…» (duma conhecida cançoneta norte-americana)
Em dois assaltos-relâmpago, tipo «blitzkrieg», consumou-se a tomada de posse da Meia Praia por quem nela manda. O armamento foi o Plano para a Meia Praia, dito PUMP.
A primeira investida, com material pesado, meteu luzida comitiva governamental, com a originalidade de serem exibidos 10 empreendedores, 10, provindos dos mais afamados centros de produção. Um por um, foram chamados (ia dizer, pelo inteligente…) para exibir a satisfação por tudo ir acontecer como eles tinham mandado.
Mas não se esqueceram de esclarecer que o Código do Trabalho terá que seguir o exemplo dos direitos e deveres do velho Estatuto do Trabalho.
Dos autarcas, um Presidente de Câmara, um, esse foi o que se esperava, blá, blá, o plano, blá, blá, o progresso, blá, blá, os postos de trabalho, blá, blá, cá estamos para o que for preciso.
E então veio a jóia da coroa, dita por quem sabe, pode e estava ali para isso. Está garantido, disse, apareçam os planos, leis, regulamentos, Diários da República, estratégias ou vontades locais ou regionais, que aparecerem, que ninguém se preocupe, o que se faz é aquilo que a gente quiser.
Era «A Bem da Nação». Agora, é «Interesse Nacional». Brilhante. Palmas e podem ir todos descansados, isto é nosso, ou melhor, vosso.
Pois, em nome da democracia.
A acção que se seguiu foi com o mesmo armamento, mas agora envolvida em capa oportunista de doçura, sem que se tivesse percebido o que é que aquilo tinha que ver com as calças. Mas oportunismo é oportunismo, e lá tem as suas regras.
O mesmo Presidente repetiu que o PUMP ia ser óptimo. Mas, outra vez, esqueceu-se de dizer para quem. E foi então e ali que quem explicou, bem explicadinho, o que ia acontecer na Meia Praia, e como, foi o patrão da Palmares, dona de vastos terrenos e pagadora do tal PUMP.
Quem paga é dono, lá diz a sacrossanta lei da propriedade. E o dono é que sabe, sem discussão.
Aqui há uns anos, um outro iluminado, que era Presidente de Câmara, disse que iria repetir, na Praia da Rocha, a Torremolinos da Andaluzia.
Este agora, que não é presidente, mas para o efeito faz de conta, veio dizer que a Quinta do Lago, em Almancil, é que era o paradigma. A Meia Praia vai ser o que ele quer, outra Quinta do Lago. Que bom. Tudo qualidade, que é o que mais abunda por lá.
Claro, é a qualidade produtora da exclusão social, a dos condomínios fechados e dos equivalentes “resorts”, tudo devidamente policiado pela matilha amestrada, de variados números de patas, que dela cuida.
E servidos pela corte de seres oriundos da classe dos vermes, a quem foi previamente retirada a coluna vertebral, estrategicamente colocados na sua posição preferida, aliás a única autorizada, de cócoras. Como sempre, atentos, veneradores e obrigados.
Outros, os cidadãos que tinham querido ver expandir-se Lagos, a Cidade, a Civitas humanista, fervilhante de vida, plural e polinucleada, sede por excelência da massa crítica pública, na busca do bem colectivo, esses retiraram-se para a velha e inexpugnável trincheira do pensamento livre.
Quereriam ter tido a Cidade rodeando a sua génese, o seu porto, e envolvendo a sua razão de ser, a sua baía. Quereriam a Cidade marginada, dum lado, pela sua Costa d’Oiro, do outro, pela sua Meia Praia. Bem no centro, o porto, gerador da identidade e factor da sustentabilidade, completado, equipado, respondendo a todas as inter-acções com a comunidade.
Tudo sem privilégios, nem exclusividades. Tudo, simplesmente, da Cidade, das suas gentes e seus visitantes, vivendo essas riquezas inimitáveis, mais valias que quereriam não negociáveis, a qualidade natural e o encanto próprio, estimadas heranças recebidas.
A propósito, lembro o homem que um dia disse «I have a dream…», e por isso levou um tiro. Por cá, mata-se com brandos costumes.
Pois, democracia.
E, na Meia Praia, a mulher de César, que espreitava lá atrás, em bicos de pés, para se mostrar, não quis saber e foi-se embora. Não encontrava lugar para mostrar a honestidade."
José Veloso(arquitecto)




e do DN de 9 de Setembro, do artigo de Ferreira Fernandes, uma citação que talvez venha a propósito



Somos um povo manso... É uma má desculpa. Junto a carta de um português, Pina Manique, ao seu superior, o Duque de Cadaval. Uma lição do falar claro:

"Exmo Sr. Duque de Cadaval, Se o meu nascimento, embora humilde, mas tão digno e honrado como o da mais alta nobreza, me coloca em circunstância de V. Excia. me tratar por tu,
- Caguei para mim que nada valho.
Se o alto cargo que exerço, de Corregedor da Justiça do reino em Santarém, permite a V. Excia., Corregedor-Mor da Justiça do Reino, tratar-me acintosamente por tu,
- Caguei para o cargo.
Mas, se nem uma nem outra coisa consentem semelhante linguagem, peço a V. Excia. que me informe com brevidade sobre estas particularidades, pois quero saber ao certo se devo ou não cagar para V. Excia.
Santarém, 22 de Outubro de 1815
Diogo Inácio de Pina Manique
Corregedor de Santarém"



se se falasse tão claro quanto Pina Manique talvez o PUMP não fosse aprovado.


_manel

2 comentários:

Paisagir disse...

è claro! A Malta vai acordar quando faltar os empregos e mais tarde o pão!

Maria João disse...

Simplesmente genial!!