Tavira flutua ainda na manhã, baloiçando entre a frescura de ser dia e a preguiça de ser tarde, mas é precisamente neste limbo que me acedo a abandoná-la. Parto em busca de um lugar próximo, referido por quem conhece por misterioso e belo. São 7km apenas a partir da cidade, sinuosos, cada vez mais enigmaticos, um passaporte para um qualquer desterro nos confins do mundo, mas chegamos finalmente. Estamos no Pego do Inferno. Outubro mas parece verão. Nunca vi nada tão verde. Um verde limão que encadeia e refresca os olhos, em plena serra algarvia, um percurso de escadas e rampas construidas numa estrutura de madeira alaranjada, uma ponte em arco (aqui so vemos o ceu, o verde das laranjeiras e um rio), caminhando ouvimos susurros de trabalhadores agrícolas que nos acompanham ocultos a uma lagoa estranhamente ainda mais verde que tudo o resto, tão profunda que se conta a história que uma carroça se despenhou e nunca mais submergiu. Duas pessoas entram na água mas rapidamente nadam para sair, o verde é em demasia, não é transparente e as lendas liquefazem-se à sua volta. Não permaneço mais de 5 min a olhar para a lagoa, tenho que voltar atrás, o caminho é longo, e de tão enigmatico desconforta, quero voltar ao meu carro, ligar o rádio e ouvir musica comercial, chegar a tavira e comprar o jornal, beber café e fumar cigarros e tenho a certeza que esta paisagem me irá povoar os sonhos mesmo que eu não queira. Não me arrependi mas não sei se volto.
Os lugares , os mitos , os sonhos, o escape, estar fora para querer voltar para dentro, é essencial para povoar a mente urbana. Nós precisamos, a cidade precisa e tudo o resto também.
_sebastiao
1 comentário:
:) belissima descrição de Tavira e as suas idiossincrasias...eheheh
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