segunda-feira, setembro 18, 2006

Bienal de Arquitectura de Veneza


Nota-se uma tendência para o aproveitamento, parece estar na moda o pegar nas coisas acrescentar ou modificar qualquer coisa e pronto. A arrogância modernista parece definitivamente posta de parte. Ciclovias pelas favelas de Bogota, edifícios com um uso qualquer transformados em centros de arte.

O local onde se encontra a exposição principal e o maior exemplo disso, uma zona, onde se construiam barcos, lindíssima, e que com meia duzia de coisas ficou pronta para a bienal.

Uma visão da cidade muito optimista (nao o será em excesso), apresenta-se a decadência, a desorganização, e a sujidade como coisa fotogénica, que obviamente o e, mas viver la...

Surpreende a exposição sobre cidades clássicas e influência na arquitectura dos anos 40, 50 e 60 por apresentar o tema sem complexos. Analisa-se a arquitectura sem pensar no facho. Será que aqui já é uma coisa normal? Fazia falta qualquer coisa assim com o portugues suave. À entrada estava:
"Amiamo il bello ma con compostezza, e ci dedichiamo al sapere, ma senza debollezza;
adoperiamo la richezza piu per la possibilita di agire che essa ci ofre, che per schiocco vonto di discorsi; e la poverta no e vergognosa ad metersi per nessuno, mentre lo e assai di piu il non darsi da fareper liberarsene..."
Pericles em Tucidide, Historiae, II, 40

Divertido encontrar casas iguais as que se constroem neste momento em Portugal por todo o lado, aquelas que estao a invadir o pais de alto abaixo, aquelas casas tipo disneylandia, no Cairo! Isto merecia uma investigação...

A representação portuguesa no Giardini della Biennale, o Lisboscopio, esta muito bem. Uma estrutura de tubo metálicos em que se entra e se começa a ver Lisboa a partir do rio, margem norte e sul. Os tubos tornam o acesso de um lado ao outro uma confusão, tal como em Lisboa... isto acompanhado de um catálogo muito interessante.

A Dinamarca insistia na China e nos seus programas de cooperação com este pais, e lançam dados impressionantes: a China neste momento representa cinquenta por cento do mercado de construção... e da maneira como as coisas estavam apresentadas parece estar a começar com problemas de sustentabilidade, para quem não se importe de trabalhar para um regime totalitário parece ser o novo mercado.

E depois um sem fim de pequenas exposições espalhadas por Veneza...


_manel

sexta-feira, setembro 08, 2006

aldeia


"A ALDEIA é uma associação de intervenção para a protecção do Ambiente e fomento de modelos sustentáveis de desenvolvimento. O seu objecto social é a defesa do Ambiente numa perspectiva educativa e de interacção com as populações e as suas necessidades; o fomento da acção e interesse pela defesa da cidadania, reconhecimento e valorização do património natural e construído; e a investigação e desenvolvimento de actividades, serviços e modelos de gestão ética e consciente de recursos humanos e naturais, em Portugal e no estrangeiro."

"A Associação ALDEIA surgiu no Nordeste Transmontano em 2003, tendo começado a desenvolver actividades no ano seguinte. Desde essa altura tem promovido acções de educação e formação nas áreas do Ambiente e Conservação da Natureza; divulgação e valorização da cultura e das tradições rurais, e promoção do voluntariado e associativismo."

"Os caminhos que a ALDEIA pretende percorrer, conhecer e divulgar são os da beleza romântica da vida no campo e nas aldeias, que apesar de dura e difícil, guarda muitos segredos e valores que simbolizam o respeito e a ligação equilibrada do Homem à Natureza. Em simultâneo, a associação pretende lançar um olhar atento sobre os problemas do Mundo Rural e da Biodiversidade, neste mundo em que a procura legítima das virtudes da modernidade nos empurra por vezes para um desenvolvimento padronizado e cego, que ignora as alternativas sem as equacionar."

Acção, Liberdade, Desenvolvimento, Educação, Investigação, Ambiente


Nos próximos dias 22 a 24 de Setembro a Aldeia organiza as I Jornadas Ibéricas de Recuperação de Aldeias Abandonadas

"A aldeia não é apenas um espaço físico. É sobretudo um espaço social que revela um modo de vida singular, um sistema ecológico de vida. Na Sociedade que conhecemos observamos os resultados de fortes convulsões sociais, politicas, económicas e tecnológicas que tiveram lugar principalmente na segunda metade do século passado. O resultado é um Rural sem território, aldeias que já não são aldeias onde já não se distingue o rural do urbano, devido a conformações sociais e económicas difusas e a uma uniformização das pautas de comportamento causadas por uma interdependência cada vez maior do sistema económico global. A cultura tradicional dissolveu-se na cultura hegemónica global."

"A ideia de uma aldeia como uma comunidade pequena, isolada, homogénea, com forte sentido de solidariedade de grupo, é hoje apenas um mito. Algumas aldeias urbanizam-se, outras despovoam-se e outras agonizam devido ao que se denomina efeito-idade. Efectivamente, muitos dos habitantes das aldeias do interior português tem cinquenta ou mais anos e grande parte não tem descendentes que queiram viver nas mesmas."

"A grande questão transversal a esta proposta de Jornadas, é a tentativa de desvelar um futuro para estas estruturas abandonadas ou semi-abandonadas constituintes da paisagem rural ibérica. Um futuro que evite uma certa romantização nostálgica do modo de vida rural, tendo presente a complexidade do modo de vida moderno com as dimensões negativas e positivas inerentes. Apesar do rural estar muito conotado com o agrário assistimos actualmente a uma nova transformação da sociedade rural, certas migrações da cidade ao campo que contribuem para diversificar as bases socioculturais e os centros de interesse. Mas será possível viver de forma ecológica nestes espaços em pleno século XXI? Será possível desenvolver de novo uma sociabilidade comunitária, um modo de estar no mundo colectivo, muito especifico e particular? Poderemos retomar a multidisciplinaridade dos habitantes das aldeias de antigamente, gente que eram verdadeiros artesãos, artistas capazes de realizar com perícia múltiplas actividades, gente cheia de engenho e imaginação face a unidimensionalidade do trabalhador dos nossos dias, que não sabe fazer mais que uma ou talvez duas coisas?"

O site da Aldeia pede uma visita prolongada, com particular interesse para as diversas actividades que esta associação organiza, desde colóquios e encontros, a cursos, passeios e muito mais.


_diogo [texto] e maria joão [informação]

terça-feira, setembro 05, 2006

A Peste, Albert Camus

Orão, 194... Uma cidade portuária na costa Argelina, sem árvores, sem pombas e absurdamente construída em caracol. Ratos mortos junto às sarjetas, nos passeios e nas escadas dos prédios, a Peste há muito banida invade a cidade, fazendo com que as autoridades a fechem. Uma população enclausurada morre e luta contra uma força invisível. Várias personagens com passados e filosofias diferentes obrigadas a conviver, um retrato dos seus pensamentos, relações interpessoais e sobrevivência. Este texto tem por fim retratar um pouco da paisagem e ambiente de Orão, a imagem imutável, que representa a grande escala e por outro a imagem mutável, a pequena escala, esta influenciada pelas condições adversas da Peste.

"Esta cidade sem pitoresco, sem vegetação e sem alma acaba por parecer repousante e, enfim, adormece-se lá. Mas é justo acrescentar que ela se incrustou numa paisagem sem igual, no meio de um planalto nú, rodeada por colinas luminosas, frente a uma baía de recorte perfeito. Pode apenas lamentar-se que ela esteja construída de costas para essa baía, e que, por conseguinte, seja impossível ver o mar, que é sempre preciso procurar."














"Na cidade, construída em caracol sobre o seu planalto, quase fechada para o mar, reinava um torpor melancólico. No meio dos seus longos muros caiados, entre as ruas de montras empoeiradas, nos carros eléctricos de um amarelo sujo, as pessoas sentiam-se um pouco prisioneiras do céu"














"Nas ruas planas e nas casas com terraços, a animação decresceu, e, neste bairro onde toda a gente vivia sempre à soleira, todas as portas estavam fechadas e persianas corridas, sem que se soubesse se era da peste ou do calor que as pessoas julgavam assim proteger-se"


_pedro