quarta-feira, maio 10, 2006

Residência de Estudantes R3





Vamos falar de arquitectura.

Tenho vontade de lhe chamar arquitectura bonita por fora mas amarga por dentro.
Os 5 edifícios dos quais fazem parte a residência de estudantes R3, do arquitecto Gonçalo Afonso Dias, em Coimbra, formam um conjunto que já de longe chama a nossa atenção. Será, a esta distância, pela cor que lhe cobre as paredes laterais, o laranja vivo. Quando nos aproximamos o conjunto continua a pedir um olhar atento e conseguimos assim abstrair-nos da pobre envolvente.
Os caixotes, paralelepédicos, de inspiração contemporânea, através dos tratados de arquitectura que as revistas agora ditam, são, sem dúvida, bonitos. Mas não mais que isso.
O interior é cinzento e desconfortável. Parece que toda aquela geometria converge para criar um ambiente de uma prisão, que só consegue ser menos castrador do de uma verdadeira porque temos portas e janelas em vez de grades. Os quartos têm o tamanho aproximado de uma cela e a disposição das próprias camas nos faz lembrar as que vemos nos filmes onde os criminosos acabam por ser apanhados.
É impossivel, para dois estudantes que partilhem um quarto, adormecer ou acordar a horas diferentes, tão exíguo que é o compartimento, tão impessoal, tão repressor. Não há espaço para guardar livros, pouco há para guardar roupa.
Aqui, a ideia de que a imagem exterior não revela a interior é levada ao extremo.
Lá dentro ficamos fechados em cubiculos onde a unica ligação ao exterior é através de uma janela que nos mostra uma oliveira e a parede laranja do edifício adjacente. É triste.
Aqui, o edifício destaca-se do objecto a que se destina e adquire autonomia, tornando-se fácil fotografá-lo. Conseguimos focá-lo exclusivamente, como se fosse possível o edifício de uma residência de estudantes viver sobre si mesmo, ser só arquitectura.
Conseguimos ficar siderados com a pele, mas o coração é podre e desinteressante.


_diogo

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