quinta-feira, maio 21, 2009

Em Bissau há um jardim de uma florista

Em Bissau há um jardim de uma florista.

Anda-se pela cidade esburacada com covas de meio metro de fundura. Outras onde se cai e já não se volta.
Ou apanha-se um táxi azul-turquesa com ferrugem e forrado a felpa com padrão de leopardo, por causa do frio…
Passa-se a praça do império, com o seu palácio colonial-anos40-semi-colonial-semi-modernista-feio. Bombardeado e queimado.
E vê-se uma montra, de uma florista.
Bate-se no vidro.
Está fechado. A senhora não está.
Mas há flores no jardim.
Entra-se no jardim acabado de regar. A cheirar a terra.
Cortam-se três flores vermelhas com caules que pesam meio quilo e que estavam debaixo da pequena mata de bambus.
Volta-se pelo caminho estreito de terra batida com vasos e com uma cana oca de correr a água.

Estão longe os "projectos de espaços exteriores”, “parques urbanos”, “espaço público” feitos à pressão, com meia-dúzia de espécies do reino vegetal enfiadas em cima de um pavimento.
Ou as "estruturas verdes e ecológicas"...

Vale a pena fazer jardins.


_manel

2 comentários:

sebastiao disse...

a Questão relevante que se levanta no texto, é que a simplicidade de um gesto de plantação...ou a simplicidade dos gestos das pessoas, é muito forte, e que provavelmente num mundo que é a guiné faz sentido...mas num mundo globalizado e desenvolvido...cheios de retro-escavadoras e potencial de transformação, o gesto da criação do Jardm de eden ou seja a poliss, o parque urbano, a praça kitada é apenas um contra-gesto de expressão forte em relação á construção. Não concordo nem descordo. é uma acção reacção. algo justificado num mundo em que o tempo corre rápido. Devemos aderir á simplicidade voluntária, valorizar as coisas simples, os pequenos recantos ou jardins? sim.... acho que sim mas será a atitude mais dificil...primeiro hão de surgir as tais polis massivas....uma contra resposa feita da mesma materia que um dolce vita tejo. Paraísos anacronicos de um dispositivo de sobrevivencia num mundo desenvolvido.Acho comparação com a guiné dificil. Porque os tempos, os processos são distintos.No entanto a beleza d a simplicidade é uma lição que emana á mesma

manel disse...

mas a Guiné é globalizada...globalização é mesmo globalização.
não me parece nada que o parque urbano ou a praça kitada seja um gesto de reacção. nem mesmo o parque de curvas onduleantes e vegetação autoctone com um toque de aço corten. porque são feitos do mesmo: falta de tempo, esbanjamento de dinheiro, e algumas vezes falta de respeito.

um "gesto de plantação" é tudo menos simples...sobretudo se experimentado ao longo de anos e anos até se conseguir o que se quer.